A Sombra da Caverna

Admin Mensagens : 467 Data de inscrição : 17/09/2009

PRIMEIRO DIA I

Capítulo II
(As Sombras na Caverna)

Foram longas horas desde que a embarcação encalhou. E Peter, começou a se familiarizar com cada canto daquele local. Sua perna doía muito, e evitou se movimentar por todo esse tempo. A sua frente, havia o grande paredão! Imponente, como um grande escudo! Parecia não ter fim quando se levantava a vista. E Peter imaginou mil coisas. “Se dessa rocha desprender qualquer lasca que seja, estarei morto” — Pensava temeroso. Pois a rocha possuía visíveis camadas, imensas entre si.

Além de tudo, havia a água, que invadia lentamente o casco rachado do barco. Talvez por mãos divinas, a maré não subira. E os danos não pareciam críticos.
Olhando toda a volta, as paredes erguiam-se até quase se perder de vista. E bem acima, longas árvores curvavam-se robustas por cima da embarcação. Não garantia que sua mente estava em plenas condições de avaliar cada detalhe, no entanto, Peter percebeu alguns caminhos que trilhavam para fora do local. Mas naquele momento, inacessíveis. Ainda mais em suas condições.

Eram pouquíssimas as frestas que davam vista do céu. E o som dos galhos e das folhas caindo pelas paredes rochosas, lembrava o de um animal afiando suas garras. Peter sentia-se acuado como uma presa naquele momento. Como se uma fera o mantivesse em cativeiro, pronto para morte.
Sua atenção era atraída por diversas vezes, quando rasgando os céus, morcegos dançavam de um lado ao outro. Trombando entre si! Aqueles animais eram de mau agouro. Por isso eram confinados em cavernas, amaldiçoados a tomar do sangue de outros seres. Peter aprendeu isso muito cedo, quando na infância estudou sobre aqueles animais, e com sua curiosidade infantil questionou o porquê criaturas assim deveriam existir! E desde aquela época, tais animais lhe causavam incomodo.

— Não permitirei que esse local me enlouqueça! — Dizia para si mesmo enquanto forçava alguns movimentos com a perna! E como poderia ele conviver com a dúvida. O resto da tripulação nem mesmo se manifestara. Ele estava sozinho. Não sabia se todos estavam mortos, ou simplesmente partiram da embarcação por uma saída alternativa. Deixando-o lá, para morrer solitário.

— Talvez eu seja um sacrifício! Sim, só poder ser isso! Aqueles malditos trouxeram um homem de fé para ser entregue a qualquer um de seus deuses falsos. — Falava sozinho enquanto finalmente começara a dar uns primeiros passos com dificuldade.
Após finalmente ganhar equilíbrio, Peter queria se afastar o máximo possível daquele paredão monstruoso. Juntou suas coisas, pôs o livro contra o peito, e na mente, tentou trilhar os caminhos que percorrera na embarcação. Caminhos que foram sutilmente desenhados em suas anotações.

Era uma mania tão antiquada, pensava ele. Quantas vezes na vida, ao correr pela floresta, levou consigo seu bloquinho de anotações. E nele, ainda sem saber escrever, desenhava os pontos que mais lhe chamava atenção. Uma pedra, uma árvore um tanto diferente. Tudo o que norteasse pelo caminho de volta. Reproduziria agora o mesmo ato, e como naquela época, buscando não perder a mente com a situação.

Foi numa noite silenciosa, em que os ventos sopravam como ninfas do mar. Em que Peter fora chamado para uma audiência na sala do grão mestre. Com uma lamparina na mão, atravessou o longo corredor de seu quarto até a sala. Enquanto no céu a lua o acompanhava timidamente por de trás de nuvens grossas.

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